Marte
Qual seria a sua exigência para uma viagem só de ida para marte?
Não parava de reclamar um minuto quando estava no trânsito. Ou porque a pessoa não saia da frente ou porque o desgraçado que estava atrás queria passar por cima. Afinal de contas, como costumava praguejar, o que é que esse monte de gente tem para fazer na rua agora?
 
Metrô ou ônibus nem pensar. Um amontoado de gente andando como um rebanho. Sempre tinha um querendo passar por cima e outro devagar olhando o celular. Aquele idiota que entrava e ficava plantado na porta e a criança remelenta chorando e tentando escapar do colo da mãe.
 
Inferno! Dizia. Queria ter nascido quando o mundo tinha só meia dúzia de habitantes.
 
Eis que então, sem lâmpada mágica, seu desejo pôde se realizar. Um pequeno grupo de pouco mais de meia dúzia é chamado para uma reunião privada com o presidente. Na reunião fica sabendo que foi escolhido para integrar a primeira missão colonizadora para Marte. Uma viagem de mão única, sem volta.
 
Após a surpresa inicial, sua primeira pergunta foi "se poderia ir hoje".
 
Depois dos esclarecimentos, condições locais e marcianas, etc., a cada um dos presentes foi dada a possibilidade de fazer uma exigência, que, obviamente, se fosse possível seria realizada. Poderia ser algo aqui na terra durante os seis meses de preparo para a missão ou algo que pudesse levar para Marte. Não havia prazo para nomear a exigência, porém tinha que ser declarada deixando um prazo possível para ser realizada.
 
Para ele, que já sabia o que iria pedir, sobrou somente uma questão a ser resolvida: o que fazer nesses seis meses que separam o hoje e a saída efetiva da missão. Imediatamente ele resolveu que passaria um mês de despedidas e os próximos cinco meses isolado em um mosteiro, conversando somente com poucos monges e sem qualquer contato com o mundo. Depois faria a exigência. Garantiu que seria algo simples e factível.
 
Saiu do mosteiro no prazo combinado e disse que estava pronto para ir para Marte. Sua exigência foi que realizassem um pedido dos membros de sua família, seja lá qual fosse ele.
 
Passados cinco anos ele está feliz em Marte, onde fundou um mosteiro da mesma ordem, no qual ele ainda é o único monge.
 
Sua família ainda não chegou a um consenso sobre o que pedir e existem dezessete processos judiciais abertos por eles para tratar desse assunto.

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