Estou cansado. Não é cansaço físico. Esse resolvo rápido. Sento, durmo, tomo banho, Ou, até, um remédio. Não é cansaço mental. Esse nunca tive. Para relaxar é só pensar. Me distraio pensando. É um cansaço da mesmice. Aquele da tabuada dos nove. Uma a uma, decoro as tabuadas. Um, dois, três, até ai todas fáceis. Quatro, cinco, seis, complica um pouco. Sete e oito, bem difíceis, mas consigo. Ai chega a dos nove. A impossível de decorar. Uma boa alma assopra no ouvido: Zero a nove em uma coluna, Nove a zero na outra. Pura mágica! Não preciso decorar É só escrever! Na prova, em um cantinho: Zero a nove, nove a zero. Tenho que escrever toda vez. Dá trabalho. Cansa, mas funciona. De cabeça, monto uma fórmula. Dezena: número menos um, Unidade: dez menos o número. Muita conta. Cansa, mas funciona. Então, de surpresa, chega o dia. Nem papel nem fórmula. Eu já sei! Pode perguntar. Eu já sei. A dos nove ficou fácil. Todas as outras triviais. Não preciso mais nem pensar. É esse o cansaço...