“Virtus in medio stat”
Intensidade ou Moderação

"A virtude está no meio". Frase atribuída à Aristóteles, e por muitos tida como verdade suprema, encerra controvérsia já no próprio enunciado. Estudiosos de latim não convergem sobre “medio” ou “media”.

 

Pelo lado filosófico, a atribuição da frase à Aristóteles também é controversa. Em Ética a Nicômaco ele diz que o homem ético se equilibra entre dois extremos, pois um homem corajoso não deve ser imprudente nem covarde. Como em sua obra Aristóteles pregava a busca do bem comum, a associação entre bem, ética, meio e equilíbrio, talvez tenha levado os pensadores medievais que o redescobriram a associar uma frase em latim ao grego que foi um dos grandes polímatas da história.

 

A frase, portanto, fica muito mais próxima do pensamento escolástico de São Tomás de Aquino, que escreveu no século XII “omnis virtus in medio consistit, ut habetur in Ethic” ou “toda virtude consiste no meio, como acontece na Ética”. É esta aproximação ao clerical que me sugere manter um distanciamento da frase.

 

Mas por que filosofia agora? Porque, ultimamente, têm me pedido ponderação, equilíbrio.

 

Eu sempre fui extremo, intenso, veemente e até exagerado. Na minha quase sexagenária idade, aprendi a conviver comigo e com os outros sendo assim.

 

No campo profissional, minha eloquência e assertividade, associadas à minha amplitude de compreensão e de ação renderam frutos e elogios ao longo de toda a minha carreira. Claro que a eloquência por vezes pode derivar para a grandiloquência e se tornar chata, assim como a assertividade pode soar a prepotência. Porém, tenho a certeza e o orgulho de que, no conjunto da obra, fui muito bem-sucedido.

 

Mas no aspecto pessoal a questão sempre foi muito mais complexa e de difícil trato. Não tenho qualquer dúvida de que passei muito da conta em diversas situações. Felizmente poucas saíram do controle e, agradeço, fortuitamente nenhuma deixou consequências desastrosas ou sequelas irremediáveis.

 

Não obstante, fechei portas e desconstruí algumas relações por conta de meu modo de ser. Quero crer que foram portas que levariam a lugar nenhum e relações que nada mais acrescentariam. Mas as portas que permaneceram abertas perderam suas folhas e tornaram-se passagens e as relações que continuaram, mesmo que poucas, tornaram-se rochas de arrimo.

 

Hoje, maduro e consciente, eu sei que vivo de certezas absolutas que duram o tempo da dúvida se instalar. E assim posso viver pelos anos que me restam. Me apoiando nas rochas e transitando pelas passagens, onde sei que serei bem recebido. Viveria bem e confortável, mas não quero.

 

Tanto texto para dizer exatamente o que?

 

Para dizer que a minha real transformação, o que me fez ser a pessoa notavelmente melhor, que hoje sou, começou há quase 15 anos. Em um reencontro de almas. Sendo preciso, como todo assertivo o é, aconteceu em 23 de abril de 2009 e hoje é 22 de março de 2024.

 

Naquele momento reencontrei a alma que, somada à minha, exala equilíbrio, pois traz em excesso aquilo que me falta e me permite acrescer aquilo que à ela falta. Essa troca intensa, profunda e madura, em minha alma se converte em amor. Amor intenso, profundo e maduro.

 

Junto dela posso ser plenamente eu. Sem medo ou vergonha. Longe dela não quero o equilíbrio.

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