Nominado por alguns como filósofo do pessimismo, entre as tantas ideias interessantes, e controversas, de Schopenhauer a que mais me apraz é a que estabelece ser a vida humana um pêndulo. Oscilando entre o sofrimento e o tédio.
Descrever a vida com um pêndulo é, sem dúvida, o cotejamento com o qual tenho maior afinidade. Já ouvi ponderarem sobre a vida cíclica. Até música de desenho clássico fala sobre a vida circular ou o círculo da vida. Eu, porém, vejo a vida muito mais pendular do que circular.
A suposta similaridade estre as visões reside somente na ilação de que ambas remetem a um movimento contínuo que começa e termina em um mesmo ponto. Tola suposição.
O círculo não tem um ponto exato de início. Começa onde o observador determina. Feito, inexoravelmente este será também o fim. Entre o início e o fim não existe repetição, só um contínuo. Absolutamente previsível e perfeito. Se assim não for, um círculo não é.
Definitivamente, circular não me parece ser a vida.
No pêndulo tudo inicia e termina em um ponto de equilíbrio. Previamente conhecido e estabelecido pelas Leis do Universo, no qual reina a mais perfeita ordem e o movimento não nos é perceptível. É só o que sabemos.
Abalando o equilíbrio determina-se o início do movimento e rapidamente nota-se a existência de inflexões. O que acontece na trajetória até as inflexões e depois delas é não trivial, assim como desconhecido é quando cessará o movimento. Temos, porém, as certezas de que o pêndulo passará muitas vezes pelo ponto de equilíbrio e de que o movimento eventualmente cessará. Exatamente no ponto de equilíbrio.
Claro que a primeira imagem é, emprestando da física o termo, a de um pêndulo linear. O do relógio antigo. Aquele que começa, passa pelo equilíbrio, inflexiona, passa novamente pelo equilíbrio, volta quase ao início e recomeça. Movimento em linha reta, passando sempre pelos mesmos pontos e perdendo força a cada passagem. Até que cessa. Conheço vidas assim. Vivi vidas assim.
Mas as mesmas Leis que estabelecem o equilíbrio permitem a existência de pêndulos não lineares, duplos, triplos, caóticos e outros modelos. Alguns conhecidos. Outros, ainda, inéditos. Percorrem caminhos inusitados e complexos, por vezes indecifráveis e indefiníveis. Alguns podem ser sintetizados e explicados por equações intrincadas. Uns tantos, não. Estes últimos são aqueles mesmerizantes. Dos quais nos tornarmos observadores. Admiradores. Reféns.
Como certezas, as Leis ratificam, somente a existência do equilíbrio e a consciência da finitude. Assim é a vida. Conheço vidas assim. Neste exato instante tento viver uma assim.
A parte do sofrimento e do tédio é mais simples. Sofremos enquanto procuramos ter o que não temos: movimento. Entediamos assim que o temos: inflexão.
Talvez ai esteja o motivo do epíteto atribuído ao filósofo. Passamos muito mais tempo nos movendo do que inflexionando. Logo, concluiriam os incautos, sofremos muito. Os mesmos tais poderiam inferir que, sendo o tédio aborrecido, nos momentos em que não sofremos é porque estamos amofinados.
Entendo de forma diversa.
Seja qual for o modelo do pêndulo, tanto mais rápido é o movimento quanto mais perto estiver do ponto de equilíbrio e mais lento fica enquanto se afasta. Até atingir a inflexão, quando o movimento cessa por instantes e a velocidade começa a aumentar novamente. Em uma direção diversa. Até atingir o pico. No equilíbrio.
A insatisfação, a busca pelo novo, a caça aos objetivos é o combustível que nos mantém vivos. A plenitude acontece quando estamos fortes, orientados pelo propósito e equilibrados. A serenidade, a amplitude de visão e a clareza de raciocínio nos é dada no instante em que atingimos um objetivo, para que possamos olhar pela perspectiva da torre de controle e decidir para onde mirar e acelerar. Nada pessimista. Muito menos triste.
E o que a minha avó tem com isso? Não posso dizer com certeza, mas com uma forte proximidade do absoluto digo que minha avó nunca soube da existência do filósofo. Porém, tinha na ponta da língua uma frase que soltava aos eternos insatisfeitos, sempre a procura de algo novo: “Nunca tão contente com nada”.
Schopenhauer, e a vida, em sua mais pura essência. Na visão da vida vivida por minha avó.