Campanha de rede de supermercados, nome de música, letra de
poesia, pergunta escrita e transcrita provavelmente em todas as línguas
conhecidas. Com tão ampla pergunta, amplo também é o leque das respostas. A
questão é que nas respostas muitas vezes esquecem a penúltima palavra e tentam
empurrar conceitos próprios.
O que faz uma criança feliz? Hambúrguer e batata frita é um
bom caminho. Uma famosa rede de lanches rápidos tem um que carrega a palavra
“feliz” no nome. Perfeito, certo? Quase.
Respeito os educadores que dizem não existir pergunta idiota
e concordo que dentro da sala de aula é verdade, mas dentro de uma lanchonete
existe sim e a pergunta é:
- Mas você
quer a comida ou o brinquedo? - e ainda piora - pode ser com queijo, né?
O cérebro da criança, muito mais rápido e profundamente mais
experiente que o do adulto, processa em milésimos de segundo algo assim:
Ö O brinquedo claro!
Ö Mas quero a comida também.
Ö A primeira pergunta não merece resposta.
Ö Queijo é melhor que alface.
E imediatamente responde:
- Pode,
mas sem pepino! - emendando com a balconista - quero aquele da capa azul!
Assunto encerrado e fome aplacada, com felicidade instantânea
e momentânea atingida. Momentânea porque, sabemos bem, aquele brinquedo vai
parar na mesma dimensão paralela para onde vão todos seus pares e,
provavelmente, nunca mais será utilizado. A criança está preocupada? Não. Ela já
está à procura da próxima felicidade, pois aquela já foi atingida.
Embora tenha sido somente um exemplo pueril é bom lembrar que
vivemos em um tempo diferente e algumas crianças já nascem com aversão à carne
e a comidas industrializadas. Para estas a felicidade talvez esteja na folha de
alface que a criança do parágrafo anterior excluiu mentalmente. Provavelmente
saboreada sem temperos, ao ar livre e compartilhando a experiência com outros
seres vivos.
E a você, adulto, o que te faz feliz? Talvez levar o filho
para comer. Se for isso, colabore com a felicidade dele e não pergunte nada. Você
já o conhece bem. Apenas o faça feliz.
Conheço pessoas que são felizes praticando esportes e conheço
outras que o são assistindo esportes pela TV e tomando cerveja. Já assisti
palestras onde a felicidade estava em cruzar o oceano sozinho em um barco e outras
onde a felicidade era atingir o cume do Everest. Pessoas começam a se exercitar
para perder peso, outras para ficar mais musculosas e outras simplesmente para
sair do sedentarismo. Tenho amigos que vão à academia todo dia e outros que ficam
felizes comendo churrasco e tomando cerveja com mais amigos todo final de
semana. O que me preocupa é quando o que vai à academia reclama que não vê mais
os amigos e o do churrasco reclama que está engordando.
Atingir a felicidade tem custos, tem caminhos e tem o “entorno”.
Trabalhar te faz feliz? Trabalhe muito e sem culpa. Trabalhar
é só um caminho ou a fonte de dinheiro (entorno) para atingir a sua felicidade?
Trabalhe feliz porque ele te levará mais rapidamente à felicidade.
Trabalhar é necessário? Talvez não, continue jogando na
loteria e eventualmente você não precisará mais trabalhar. Mas será que aquele
que fica feliz trabalhando, se ganhar na loteria realmente irá parar de
trabalhar?
O trabalho, por um motivo ou por outro, é parte de um todo,
necessário e útil. Através dele você pode atingir a sua felicidade e, talvez
mais importante, ajudar outros a atingirem as próprias felicidades. Pode ser o
seu companheiro de sala ou de empresa ou pode ser alguém que você (ainda) nem
conhece. No caso de uma empresa pública, pode ser um cidadão.
Talvez agora você queira me perguntar:
- E você, o
que te faz feliz?
Eu respondo de pronto:
- O que me
faz feliz é perseguir a utopia.