Minha cidade e suas estatísticas
Saio, casas bonitas, jardins bem cuidados, classe média.
Entro no monstro que engole gente, onde se misturam imigrantes, classe média e as mais variadas manifestações da pirâmide social. Depois de rasgar o asfalto de grandes avenidas e pequenas ruas, sou cuspido do monstro em pleno centro pulsante da metrópole, onde vejo prédios velhos com a arquitetura cuidada e prédios novos, arquitetura arrojada; todos juntos unidos como que por uma força vital que congrega esta megalópole na qual vivo, onde o fator humano convive fraternalmente com o concreto, ajudando-se e mutilando-se mutuamente.
É uma cidade onde por trás de estatísticas, assaltos, assassinatos, acidentes, vive o homem chamado por alguns de "neurótico", mas que na verdade é muito feliz com sua cidade, o paulistano.
Volto para casa na hora em que toda a cidade se transforma, quando os edifícios do centro, do mais velho ao mais novo, do mais alto ao mais baixo, enfim todos se apagam e nas avenidas pequenos pontos brancos ou vermelhos movimentam-se vagarosamente.
Desta vez decidi que não vou entrar no monstro, que alias já deve estar com a barriga cheia, vou voltar a pé. Aí vem a escolha, ou volto por ruas desertas e corro o risco de ser assaltado ou volto pelas movimentadas e corro o risco de ser asfixiado ou atropelado.
Volto pelas avenidas, olhos ardentes, fumaça, ouvidos latejantes, buzinas, a cidade começa a girar, ... girar ... me vem à mente o lado pobre da cidade, na figura do moleque de calção e camiseta rasgada, pezinhos descalços e ágeis no chão, que me olha espantado enquanto caminho em direção à avenida. O jornal na TV, as últimas notícias, o barulho.
Nada mais vejo, nada mais ouço. Saio da minha cidade para entrar nas suas estatísticas.
COMENTÁRIOS DA PROFESSORA
Último parágrafo -> bonito
Busca e consegue, em vários momentos, expressividade de linguagem, pelos recursos, e no assinalado pela sintaxe (início do penúltimo parágrafo).
Os parágrafos longos diluíram o texto, a força da mensagem; neles notadamente no 1o, a linguagem rebuscada não lhe dá fluência.
Tem boas ideias que, se concisas, revelariam melhor sua descrição.