Doce de abóbora
Quer um doce de abóbora? Acabei de fazer.

Ah!  o moço da companhia telefônica, pode entrar. O aparelho fica ali, embaixo da escada, desculpe o mau jeito, mas é que a casa é pequena. Não, ele está mudo a três dias. Mas foi bom, porque assim o meu neto teve que vir trazer o convite de casamento aqui. Desaforados como eles são, seriam capazes de me convidar pelo telefone. Mas eu também nem vou neste casamento. O senhor sabe que eles já moravam juntos há três anos? Não, não! Eu só limpo o telefone com um pano e álcool. O senhor vê que desaforo, me convidaram somente para a missa. Será que eles acham que eu não sei que depois da missa vai ter festa? Mas eles devem pensar "aquela velha chata só vai atrapalhar a nossa festa". Depois, essa igreja fica tão longe... e eu nem sei chegar lá. Eu mando uma lembrancinha para eles, rezo uma Ave-Maria na missa de domingo e eles nem vão sentir a minha falta no casamento. O senhor tem filhos? Ah! É solteiro. O senhor não sabe o que é cuidar dos filhos, ver eles crescerem e irem embora e depois ver o mesmo acontecer com os netos. É triste. Tem que trocar o aparelho? Tudo bem, esse aí já estava velho mesmo. Mas se eles pensam que eu vou ficar quieta eles estão muito enganados. Eu vou descobrir onde será esta festa e vou até lá depois do casamento. Eles vão ver que eu sou velha, mas sou boa de briga. Eu não estou atrapalhando o senhor? Não né? A gente desanda a falar da vida e não consegue mais parar. É muito triste ver que as pessoas que mais amamos na vida não ligam para nós. Mas esse casamento não me interessa muito. Também, desde que ele se juntou com aquela lambisgoia ele deve ter vindo aqui umas três ou quatro vezes, mas eu sempre tinha um docinho para ele na geladeira. O senhor já acabou? Espere um pouco, leve este doce de abóbora que eu tinha feito. Ele não me convidou para a festa eu também não dei o doce.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *