O dia mais importante
Amor. Tá na hora, vamos!

- Amor!

- ...

- Amor. Vamos!

- ...

- Amor. Tá na hora, vamos!

Ele abre os olhos e, ao mesmo tempo em que identifica no relógio digital que são quatro e meia, pula da cama.

- To pronto. Vamos!

- E as malas?

- Já tá tudo pronto, só vou colocar as malas no carro e vamos.

Passos, portas batendo e ele volta com a respiração ofegante, mais pela pressa com que fez tudo do que pelo esforço de carregar as malas.

- Você ainda tá na cama? Levanta e vamos!

- Calma, ainda vou lavar o rosto e escovar os dentes.

- Pra que?  Vamos, você faz isso depois.

Ela nem se dá ao trabalho de responder. Levanta-se da cama com uma certa dificuldade, que ele entende como preguiça, mas mesmo assim ajuda. Enquanto ela usa o vaso ele lava o próprio rosto e escova os dentes. Quando termina a ajuda a levantar do vaso.

- Para agilizar! - diz ele.

- Não precisa, eu sei fazer isso sozinha. - Ela retruca.

Quando ela sai do banheiro o encontra em pé, no meio do quarto, sacudindo as pernas e estralando os dedos das mãos.

- Você não encontrou ninguém enquanto levava as malas para o carro? - Ela pergunta.

- Não, quem eu poderia encontrar a esta hora?

- Você vai assim?

- ...

- Se você quiser ir sem camisa até pode, mas acho melhor colocar pelo menos uma bermuda.

Neste momento ele nota que estava andando para lá e para cá só com a cueca de dormir, lembra da muda de roupa previamente separada e prontamente começa a vesti-la.

- Agora tá tudo pronto. Vamos?

- E as crianças? - Ela pergunta e, ao mesmo tempo, responde à pergunta feita, enquanto retira a camisola e coloca junto com a cueca de dormir dele em uma sacolinha plástica de supermercado.

Enquanto ouvia muitos “não quero”, “me deixa dormir”, “vou ficar aqui”, “sai chato”, algum choro e o barulho das portas do carro abrindo e fechando, ela terminou de se vestir, cuidou das despedidas acordando quem ainda não havia acordado com o barulho e deixou algumas orientações e pedidos.

Ela já estava no meio da sala de estar, com a sacolinha na mão, quando ele aparece ofegante e bastante suado.

- Vamos agora?!? – Ele diz, demonstrando bastante impaciência.

- Calma.

- Como calma? Já são quase cinco da manhã, eu estou esperando o seu “vamos” como quem espera o sexto número da loteria quando acertou os outros cinco. Depois do seu primeiro “vamos” eu estava pronto em três minutos e o que você tem feito senão enrolar? Se precisa de ajuda peça, mas “VAMOS”.

Todos no carro, ela olha para as crianças dormindo no banco de trás, cintos de segurança afivelados, ele liga o carro e o ar-condicionado começa a funcionar, ajudando o secar o suor que escorre em bicas pelo rosto dele.

- Espero que não peguemos trânsito. - Ele comenta, mesmo sabendo que não vai pegar.

- Você se despediu direito? – Pergunta ela?

- Se despediu de quem, criatura? – Ele responde com toda a impaciência do mundo.

Ela se enche de compreensão e candura pois, afinal de contas, gosta muito dele e entende perfeitamente as razões da impaciência que o aflige. Porém monta sua pior cara, aquela que mistura ódio e desprezo e dispara:

- Você não acha que é uma tremenda falta de educação sair sem se despedir depois de aproveitar quinze dias de férias na fazenda da minha mãe?

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