Funcionário da ONU leva planeta para arca para salvá-lo em
charge do jornal norueguês "Dagningen"
O Mito da Arca de Noé é cíclico. De
tempos em tempos algum tipo de "rearranjo" tem que acontecer. Assim
como fazemos em casa, no escritório e (deveríamos fazer) em nossas vidas. É
isso que eu acredito que está acontecendo agora. Na verdade, acho que a longo
prazo será muito bom o que está acontecendo. Claro que me solidarizo com a
perda que os parentes daqueles que morreram (e dos que ainda morrerão)
enfrentam (ou enfrentarão), mas, infelizmente, nem todas as consequências das
mudanças são boas e a curto prazo podem ser bem ruins.
Lembrem que a Noé foi dada a
incumbência não só de construir a Arca, mas também a enorme e complexa
incumbência de garantir a presença de um casal de cada espécie na Arca e assim
ele o fez. Poderia (deveria?) ter deixado os pernilongos para fora, mas não
deixou.
Passeando por listas de mensagens e
redes sociais é fácil perceber que tem gente preocupada só com a saúde e tem
gente olhando só para a economia, tem também aqueles que se preocupam com um,
mas de olho no outro. Além disso, existem publicações para todos os gostos:
pessoas preocupadas com os animais de rua que estão “perdidos” e “sem ter o que
comer”, gente divulgando receita caseira de álcool gel, famílias pensando em
formas criativas de entreter crianças e outros explicando como fazer para
manter os idosos em casa.
Muitas pessoas passam o tempo
procurando desesperadamente por culpados. Culpados pelo vírus, pela falta de
papel higiênico, pelas decisões atabalhoadas de políticos e empresas, pela
falta de decisão de políticos e empresas, pela falta de carinho, pelo excesso
de abraços e o que mais for interessante para culpar alguém. O importante é
culpar alguém e tirar esse peso das próprias costas.
Tem gente se preocupando com o que
fazer em casa e outros se preocupando com os que não têm casa para fazer algo
nela. Assim como os que se preocupam com uma possível escassez de comida
enquanto outros olham para os que, mesmo em tempos de abundância, nunca tiveram
nem o mínimo garantido.
Existe também uma quantidade enorme
de “especialistas”, de todos os tipos e matizes. Basta escolher uma tese
qualquer e, com certeza, você encontrará um especialista com dados e fatos que
comprovam a tese. Por mais esdrúxula que seja. Dessa forma, todos, em algum
momento, terão certeza absoluta de que estão corretos e isso lhes trará
conforto, mesmo que efêmero.
Gosto também dos arautos do
apocalipse, que se ocupam entre o “eu já sabia” e o “eu te disse”, ficando
felizes quando encontram profecias que corroboram sua visão, desde Nostradamus
até Bill Gates e obviamente passando pelos grandes profetas dos últimos 30
anos: Os Simpsons.
Existem ainda aqueles que ficam
pensando em como lucrar com tudo isso: financeiramente, politicamente e
pessoalmente. A visão deles é simples: no final deste ciclo eu tenho que lucrar
e estar no comando.
Em resumo, acho que tem gente
pensando em tudo. Tudo mesmo, até coisas que estão muito longe da nossa
compreensão ou competência, como, por exemplo, encontrar a cura definitiva para
o vírus da gripe, ancestral de todos os que já passaram e dos que ainda virão.
O que eu acho excelente em tudo isso
é que quanto mais gente pensando em como salvar um casal de cada espécie (ou em
cada problema), menos trabalho sobrará para Noé e assim ele pode se concentrar
na construção da Arca (ou da cura).