Arca de Noé e o corona vírus
O Mito da Arca de Noé é cíclico. De tempos em tempos algum tipo de "rearranjo" tem que acontecer.

Funcionário da ONU leva planeta para arca para salvá-lo em charge do jornal norueguês "Dagningen"​

O Mito da Arca de Noé é cíclico. De tempos em tempos algum tipo de "rearranjo" tem que acontecer. Assim como fazemos em casa, no escritório e (deveríamos fazer) em nossas vidas. É isso que eu acredito que está acontecendo agora. Na verdade, acho que a longo prazo será muito bom o que está acontecendo. Claro que me solidarizo com a perda que os parentes daqueles que morreram (e dos que ainda morrerão) enfrentam (ou enfrentarão), mas, infelizmente, nem todas as consequências das mudanças são boas e a curto prazo podem ser bem ruins.

Lembrem que a Noé foi dada a incumbência não só de construir a Arca, mas também a enorme e complexa incumbência de garantir a presença de um casal de cada espécie na Arca e assim ele o fez. Poderia (deveria?) ter deixado os pernilongos para fora, mas não deixou.

Passeando por listas de mensagens e redes sociais é fácil perceber que tem gente preocupada só com a saúde e tem gente olhando só para a economia, tem também aqueles que se preocupam com um, mas de olho no outro. Além disso, existem publicações para todos os gostos: pessoas preocupadas com os animais de rua que estão “perdidos” e “sem ter o que comer”, gente divulgando receita caseira de álcool gel, famílias pensando em formas criativas de entreter crianças e outros explicando como fazer para manter os idosos em casa.

Muitas pessoas passam o tempo procurando desesperadamente por culpados. Culpados pelo vírus, pela falta de papel higiênico, pelas decisões atabalhoadas de políticos e empresas, pela falta de decisão de políticos e empresas, pela falta de carinho, pelo excesso de abraços e o que mais for interessante para culpar alguém. O importante é culpar alguém e tirar esse peso das próprias costas.

Tem gente se preocupando com o que fazer em casa e outros se preocupando com os que não têm casa para fazer algo nela. Assim como os que se preocupam com uma possível escassez de comida enquanto outros olham para os que, mesmo em tempos de abundância, nunca tiveram nem o mínimo garantido.

Existe também uma quantidade enorme de “especialistas”, de todos os tipos e matizes. Basta escolher uma tese qualquer e, com certeza, você encontrará um especialista com dados e fatos que comprovam a tese. Por mais esdrúxula que seja. Dessa forma, todos, em algum momento, terão certeza absoluta de que estão corretos e isso lhes trará conforto, mesmo que efêmero.

Gosto também dos arautos do apocalipse, que se ocupam entre o “eu já sabia” e o “eu te disse”, ficando felizes quando encontram profecias que corroboram sua visão, desde Nostradamus até Bill Gates e obviamente passando pelos grandes profetas dos últimos 30 anos: Os Simpsons.

Existem ainda aqueles que ficam pensando em como lucrar com tudo isso: financeiramente, politicamente e pessoalmente. A visão deles é simples: no final deste ciclo eu tenho que lucrar e estar no comando.

Em resumo, acho que tem gente pensando em tudo. Tudo mesmo, até coisas que estão muito longe da nossa compreensão ou competência, como, por exemplo, encontrar a cura definitiva para o vírus da gripe, ancestral de todos os que já passaram e dos que ainda virão.

O que eu acho excelente em tudo isso é que quanto mais gente pensando em como salvar um casal de cada espécie (ou em cada problema), menos trabalho sobrará para Noé e assim ele pode se concentrar na construção da Arca (ou da cura).

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